28/09/2025 às 18:21
Setembro de 2025 – A ausência de um marco legal nacional tem levado ao uso indevido da contratação temporária no serviço público no Brasil e à falta de direitos fundamentais aos profissionais em tempo determinado. Das 27 unidades federativas brasileiras (estados e Distrito Federal), apenas 10 garantem licença-maternidade e 9 licença-paternidade, somente 2 asseguram estabilidade à gestante, 3 permitem licenças para tratamento por acidente de trabalho e 9 para tratamento de saúde, 4 oferecem auxílio-alimentação e 4 repouso semanal remunerado.
As informações constam da nota técnica do Movimento Pessoas à Frente, “Dados e evidências para uma regulamentação nacional da contratação por tempo determinado”, elaborada pelos pesquisadores Felipe Drumond, Myrelle Jacob e Laís Montgomery, e lançada nesta segunda-feira (29.09). Ainda sobre a ausência de direitos trabalhistas, o levantamento mostrou que 21 estados garantem férias remuneradas, enquanto 20 asseguram 13º salário.
A nota técnica também analisou a questão salarial, que apresentou diferenças entre os estados. Ao todo, há 19 modelos remuneratórios para temporários e, em muitos casos, não possuem referência obrigatória à remuneração de cargos efetivos equivalentes, o que gera disparidades e pode levar a remunerações abaixo do cargo correspondente.
Outro ponto sensível está ligado à possibilidade de renovações frequentes ou indefinidas. Neste caso, há sete estados com prazos indeterminados e oito com prazo único, gerando, assim, insegurança jurídica para o contratante e para o contratado. A nota técnica identificou, ainda, a ausência da necessidade de cumprir quarentena na maior parte dos estados. Ou seja, em muitos deles, não há um intervalo mínimo entre contratos, o que perpetua vínculos temporários. Apenas 9 estados têm impedimentos à recontratação sucessiva.
Para Jessika Moreira, uma série de fatores ajuda a explicar esse cenário, em especial, a falta de uma lei específica de caráter nacional que regulamente a contratação de trabalhadores temporários.
“A ausência de um marco legal nacional, somada à diversidade normativa subnacional e ao uso indevido desse mecanismo comprometem a constitucionalidade da contratação de trabalhadores temporários. O resultado é uma constante insegurança jurídica por parte dos gestores, a precarização de vínculos e do trabalho, e a fragilidade na prestação de serviços essenciais, como a educação e a saúde”, destaca Moreira, lembrando que o setor de educação é o que mais concentra a contratação de trabalhadores por tempo determinado.
O levantamento mostrou que em 17 unidades federativas são comuns as recontratações sucessivas dos temporários, e que 43,6% dos docentes ficam mais de 11 anos nestas condições.
Aumentou 42% contratação de temporários em seis anos
A nota técnica aponta também que, apesar de ser uma exceção constitucional a contratação no serviço público por tempo determinado, houve aumento de 42,1% no número de profissionais neste regime nos estados e de 10,6% na União, no período de 2017 a 2023.
Ao todo, 21 dos 26 estados tiveram aumento nas contratações temporárias, com exceções de Ceará, Rio Grande do Norte, Amazonas, Minas Gerais e Paraná. Ao mesmo tempo, houve uma redução de 11,8% no número de profissionais contratados em regime de caráter efetivo (fixo), considerando-se o Governo Federal e os entes subnacionais.
Para além da defesa dos direitos desses trabalhadores, e da necessária redução da judicialização, outra reflexão que o levantamento traz é sobre a necessidade de equilíbrio entre o uso da mão de obra temporária e a de servidores permanentes. Isto é, o urgente e importante planejamento da força de trabalho. Essas informações evidenciam uma prática que gera insegurança jurídica e impacta nos direitos desses profissionais.
“É preciso equilíbrio. O trabalhador temporário é necessário em diversas situações, como emergências e catástrofes, para a manutenção e qualidade das políticas públicas sociais e para atender necessidades como uma grande obra que tem começo, meio e fim. Isso não quer dizer que esse tipo de contratação deve ser usado de forma indiscriminada ou precarizada. O servidor efetivo garante estabilidade e continuidade da política pública no longo prazo”, explica Moreira.
Insegurança jurídica e decisões colegiadas
Diante desse cenário, existem espaços para uma judicialização recorrente, o que causa insegurança jurídica para gestores e trabalhadores. Cláusulas vagas e prazos indeterminados têm levado à nulidade de contratos e ao pagamento de passivos. No Superior Tribunal Federal (STF), foram identificadas e analisadas 52 decisões colegiadas sobre o tema no período de seis anos (2017-2023).
O estudo identificou os principais vícios recorrentes, de acordo com jurisprudência do Superior Tribunal Federal (STF), que favorecem a inconstitucionalidade de normas federais, estaduais e distritais, no que se refere às contratações por tempo determinado.
Diante desse contexto, o levantamento classifica esses vícios em quatro categorias: (i) vício material por cláusulas genéricas: a partir do uso de expressões vagas como “necessidade do serviço” ou “interesse público”, é reiteradamente invalidado pela Corte; (ii) utilização do vínculo para funções específicas: o STF tem vedado contratações temporárias para cargos típicos de Estado (policiais, defensores, fiscais etc.); (iii) ausência de prazo certo ou prorrogação ilimitada: normas que permitam prazos indeterminados ou renovações sucessivas são consideradas inconstitucionais; (iv) vícios formais: incluem usurpação de competência do Executivo e ausência de estimativa de impacto orçamentário.
Regulamentação nacional é urgente
Para Jessika Moreira, a definição de uma regulação específica trará inúmeros benefícios para a União, para os estados e para os trabalhadores. “É urgente a criação de uma regulação nacional para os trabalhadores temporários. Defendemos a criação de uma legislação para que o Brasil possa ter mais segurança jurídica para gestores públicos e contratados, preservando as funções para as quais não cabe a contratação temporária, além de proteger direitos fundamentais para esses trabalhadores. Isso contribuiria, ainda, para a diminuição da judicialização e dos passivos trabalhistas, além da possibilidade de ter dados públicos e confiáveis para o controle social e para a formulação de políticas públicas”, diz ela.
A reforma administrativa, cuja proposta está em andamento na Câmara dos Deputados, deverá abordar esse tema, conforme afirmou o deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ), relator do projeto. Além disso, o Movimento Pessoas à Frente elaborou um anteprojeto de Lei Geral de Contratação por Tempo Determinado no Setor Público, que sugere a criação de uma Lei Geral Nacional, com regras mínimas obrigatórias para União, estados e municípios, e estabelece critérios para contratação temporária, como prazo certo, excepcionalidade e necessidade transitória. A lei garantiria, ainda, direitos mínimos como licença-maternidade, adicional de férias e transparência na seleção dos profissionais. Por fim, o texto propõe a criação do Portal Nacional de Contratações Temporárias (PNTD), com o objetivo de promover transparência, controle e acesso público aos dados. Após a entrega do documento ao Gabinete Compartilhado, o projeto foi protocolado no Senado Federal (PL 3.086/2025) e na Câmara dos Deputados (PL 3.069/2025).
Nome | Setor | Cargo |
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Adriano Amorim | Órgãos de Controle | Tribunal de Contas da União (TCU) (Comitê de Governança) |
Alessandro Molon | Especialista | Partido Socialista Brasileiro (PSB) |
Aline Fabiana Timm Cesário | Órgãos de Controle | Auditora Federal de Controle Externo, Tribunal de Contas da União (TCU) |
Alketa Peci | Especialista | Professora, EBAPE/FGV |
André Anderson | Órgãos de Controle | Secretário de Planejamento, Gestão e Governança, Tribunal de Contas da União (TCU) |
André Luiz Marques | Organizações do Terceiro Setor | Coordenador Executivo do Centro de Gestão e Políticas Públicas Insper |
Andrea Quadros Pasquini | Governo Estadual | Diretora de Gestão de Pessoas do RS, Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão do RS |
Anna Migueis | Organizações do Terceiro Setor | Pesquisadora, Sociedade Brasileira de Direito Público (SBDP) |
Bruna Santos | Organizações do Terceiro Setor | Diretora, Wilson Center Brazil Institute |
Bruno Betat | Organizações do Terceiro Setor | Instituto Gesto e Vetor Brasil |
Bruno Simões | Governo Municipal | Prefeitura de São Paulo |
Caio César de Medeiros Costa | Organizações do Terceiro Setor | Presidente da SBAP |
Carlos Ari Sundfeld | Organizações do Terceiro Setor | SBDP, Professor Titular FGV Direito SP (Comitê de Governança) |
Cezar Miola | Órgãos de Controle | Presidente da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil - Atricon |
Cibele Franzese | Especialista | Professora e Coordenadora FGV/EAESP (Comitê de Governança) |
Clarissa Malinverni | Organizações do Terceiro Setor | Fundação Lemann |
Conrado Tristão | Organizações do Terceiro Setor | Coordenador do Núcleo de Inovação da Função Pública - Sociedade Brasileira de Direito Público (sbdp) |
Cristiano Heckert | Organizações do Terceiro Setor | Diretor-Presidente da Funpresp-Exe |
Daniel Duque | Organizações do Terceiro Setor | Head de Inteligência Técnica, CLP |
Daniel Ortega Nieto | Especialista | Especialista Sênior em Setor Público, Banco Mundial |
Denise Silva | Organizações do Terceiro Setor | Instituto Gesto e Vetor Brasil |
Diogo Godinho Ramos Costa | Organizações do Terceiro Setor | Intituto Millenium |
Douglas Andrade da Silva | Governo Federal | Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) |
Edilberto Carlos Pontes Lima | Organizações do Terceiro Setor | Instituto Rui Barbosa |
Edison Franklin Almeida | Órgãos de Controle | Auditor Federal de Controle Externo Tribunal de Contas da União (TCU) |
Eduardo Viana Almas | Governo Federal | Ministério da Economia |
Elisa Midori Okamura | Governo Federal | Assistente na Coordenação-Geral de Arquitetura de Carreiras deste Departamento de Carreiras e Desenvolvimento de Pessoas, Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia |
Eloy Oliveira | Organizações do Terceiro Setor | República.org |
Emilia Carvalho | Organizações do Terceiro Setor | Coordenadora de Mobilização, CLP |
Érika Nascimento | Governo Estadual | Seduc SP |
Evelyn Levy | Especialista | Especialista sênior em Gestão Pública / FGV |
Fabricio Marques Santos | Governo Estadual | Secretário de Planejamento, Gestão e Desenvolvimento Regional de Pernambuco e presidente do Conselho Nac. de Sec. de Estado do Planejamento-CONSEPLAN (Comitê de Governança) |
Faviane Teixeira | Organizações do Terceiro Setor | Gerente de Apoio Estratégico a Governos Vetor Brasil |
Felipe Drumond | Setor privado | Elo |
Fernando de S. Coelho | Especialista | Professor USP |
Flavia Pimenta | Governo Estadual | Gestora Governamental de MT |
Francisco Gaetani | Governo Federal | Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) (Comitê de Governança) |
Frederico Carvalho Dias | Órgãos de Controle | Tribunal de Contas da União (TCU) (Comitê de Governança) |
Gabriela Lotta | Especialista | FGV (Comitê de Governança) |
Gláucia Macedo | Organizações do Terceiro Setor | Instituto Humanize |
Guilherme Coelho | Organizações do Terceiro Setor | República.org |
Hamilton Caputo | Órgãos de Controle | Secretário de Controle Externo em SP no Tribunal de Contas da União · |
Haroldo Rocha | Organizações do Terceiro Setor | Movimento Profissão Docente (Comitê de Governança) |
Helena Wajnman | Organizações do Terceiro Setor | República.org (Comitê de Governança) |
Humberto Falcão | Organizações do Terceiro Setor | Fundação Dom Cabral (Comitê de Governança) |
Ieda Aparecida de Moura Cagni | Advocacia Pública | Secretária-Geral de Administração , Advocacia-Geral da União (AGU) |
Inês Coimbra | Advocacia Pública | Procuradora Geral do Estado de São Paulo |
Iracema Keila Castelo Branco | Governo Estadual | Subsecretária de Gestão de Pessoas, Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão do RS |
Isabela Menon | Organizações do Terceiro Setor | CLP |
Jéssika Moreira | Organizações do Terceiro Setor | Cofundadora do Íris: Laboratório de Inovação e Dados do Governo do Ceará | Rede de Líderes Fundação Lemann |
João Paulo Mota | Organizações do Terceiro Setor | Instituto Publix |
Joice Toyota | Organizações do Terceiro Setor | Vetor Brasil (Comitê de Governança) |
José Roberto Baldivia Junior | Organizações do Terceiro Setor | Instituto Gesto |
Juliana Bonacorsi de Palma | Especialista | Professora e pesquisadora Grupo Público – FGV Direito SP |
Kiki Mori | Governo Federal | Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) |
Leonardo Secchi | Especialista | Professor de Políticas Públicas e Administração Pública |
Leticia Biaggion | Organizações do Terceiro Setor | Fundação Lemann |
Luana Dratovsky | Organizações do Terceiro Setor | Instituto Gesto |
Lucas Ambrozio Lopes da Silva | Governo Municipal | Prefeitura de São Paulo |
Lucas Cardoso | Organizações do Terceiro Setor | CEO, Dendezeiro |
Luciana Silva Custódio | Governo Estadual | Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, Governo do Estado de Minas Gerais |
Marcelo Ribeiro | Governo Estadual | Secretário Adjunto de Gestão de Pessoas · Secretaria Estadual de Educação do Estado do Pará (SEDUC-PA) |
Marcos Santos Kroll | Governo Federal | Diretor(a) do Departamento de Modelos Organizacionais - Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) |
Mariano Lafuente | Especialista | Especialista Líder em Modernização do Estado no BID |
Mario Woortmann | Organizações do Terceiro Setor | Instituto Publix |
Marizaura Camões | Governo Federal | Coordenadora-Geral da Unidade de Insights Comportamentais · Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos |
Michael Cerqueira | Especialista | Consultor de Gestão Pública |
Monica Bernardi | Organizações do Terceiro Setor | Fundação João Pinheiro |
Natalia Teles da Mota | Especialista | ENAP |
Oton Araujo Duarte da Silva | Governo Municipal | Prefeitura do Rio de Janeiro |
Paulo Lino Gonçalves | Sindicato | Presidente, Sinal – Sind. Nac. Func. Banco Central |
Pedro Pontual | Governo Federal | Casa Civil (Comitê de Governança) |
Rafael Leite | Organizações do Terceiro Setor | Consultor, Fundação Lemann |
Rafaela Bastos | Organizações do Terceiro Setor | Presidente da Fundação João Goulart – Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro |
Renata Vilhena | Organizações do Terceiro Setor | Fundação Dom Cabral (Comitê de Governança) |
Renato Sérgio de Lima | Organizações do Terceiro Setor | Fórum Brasileiro de Segurança Pública |
Ricardo Alberto Kanayama | Organizações do Terceiro Setor | Advogado e pesquisador, Sociedade Brasileira de Direito Público (sbdp) |
Rudinei dos Santos Marques | Sindicato | Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) (Comitê de Governança) |
Sérgio Andrade | Organizações do Terceiro Setor | Agenda Pública |
Sérgio Praça | Especialista | Professor e pesquisador da Escola de Ciências Sociais (CPDOC) da FGV |
Tâmara Andrade | Especialista | Professora e Especialista em gestão de pessoas e diversidade |
Tatiana Ribeiro | Organizações do Terceiro Setor | Movimento Brasil Competitivo (MBC) (Comitê de Governança) |
Thiago Peixoto | Organizações do Terceiro Setor | Movimento Profissão Docente |
Tiago Mitraud | Especialista | Partido NOVO (Comitê de Governança) |
Vera Monteiro | Especialista | Advogada e Professora de direito administrativo da FGV Direito SP (Comitê de Governança) |
Weber Sutti | Organizações do Terceiro Setor | Diretor, Fundação Lemann (Comitê de Governança) |