Movimento Pessoas à Frente lança grupo de trabalho sobre mulheres no serviço público

07/06/2024 às 12:14

O Movimento Pessoas à Frente lançou nesta quinta-feira (06/06) o Grupo de Trabalho Mulheres no Serviço Público, que nasce com a missão de fomentar o debate e propor ações sobre os principais desafios para o acesso, a permanência e a ascensão das mulheres em cargos de liderança no serviço público brasileiro. Ao longo de 2024, serão realizados dez encontros temáticos, que reunirão uma equipe interdisciplinar de especialistas para se aprofundar na construção de diretrizes e propostas de aprimoramento de políticas públicas neste tema.

O GT Mulheres no Serviço Público é uma iniciativa que reúne pesquisadores e profissionais especialistas no tema de diferentes setores. À frente da coordenação do grupo estão Betânia Lemos, presidenta da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), e Ana Diniz, pesquisadora de gênero, inclusão e trabalho do Insper. Entre as embaixadoras do GT, responsáveis por conduzir as oficinas, temos nomes como Ana Carolina Querino, representante adjunta da ONU Mulheres Brasil, Irene Vida Gala, subchefe do Escritório de Representação do Itamaraty em São Paulo, Anna Venturini, diretora de programa do MGI (Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos), e Ariana Francis, Ouvidora-Geral da União.

No evento de lançamento, Jessika Moreira, diretora executiva do Movimento Pessoas à Frente, reforçou a importância de lideranças públicas representarem a diversidade da população brasileira, uma demanda que é também da sociedade. “As mulheres são  51,5% da população brasileira, mas esse percentual é muito menor no setor público, principalmente quando falamos em lideranças. É fundamental que a nossa sociedade esteja representada no serviço público e essencialmente nas posições de tomada de decisão. As evidências sobre as vantagens de se construir uma burocracia representativa são cada vez mais robustas. Mostram, por exemplo, que ter as minorias sociais representadas no corpo burocrático agrega qualidade às políticas públicas, tornando-as mais responsivas às demandas de cidadãos e cidadãs”, afirmou.

Segundo o Observatório de Pessoal (2023), do Ministério de Gestão e Inovação, apenas 37,8% dos cargos de alta liderança no governo federal são ocupados por mulheres, sendo apenas 11% de mulheres negras nestas posições. Já em cargos de 1o escalão de governos estaduais, apenas 27% são mulheres, segundo o Censo das Secretarias (2024) elaborado pelo Instituto Alziras, Aleias, Foz e Travessias Políticas Públicas.  

Primeiro encontro contou com 65 participantes

Betânia Lemos reforçou a questão da sub-representação das mulheres, indicando que, apesar de ocuparem menos postos de liderança, estudos apontam que elas apresentam melhores resultados nesses cargos do que homens. “Nós temos as soft skills consideradas mais adequadas para o serviço público do futuro: resiliência, empatia e poder de negociação, escuta e cooperação. A gente precisou desenvolver essas habilidades todos os dias, dentro das nossas famílias, nas escolas e locais de trabalho, para sobreviver e poder ter um lugar ao sol”, explicou.

A presidenta da Enap ainda destacou os desafios da interseccionalidade, conceito central para o trabalho do GT, dentro do grupo das mulheres: “Negras, indígenas, quilombolas, trans, homossexuais, entre tantas outras diversidades. Quando combinamos o fato de ser mulher com qualquer uma dessas características, as posições que assumimos em cargos de liderança vão ficando cada vez mais escassas. As decisões acabam sendo tomadas por pessoas que nem sempre pertencem às beneficiadas daquela política pública e, por isso, não entendem as necessidades daquele grupo”.

Ana Diniz trouxe para a abertura do GT a discussão sobre como ampliar a participação das mulheres nas instituições e de que maneira responsabilizar a gestão nesse processo para criar novas práticas que, de fato, promovam diversidade e inclusão. “Dentro das organizações, vemos alguns padrões, como a sobrerrepresentação feminina em áreas historicamente relacionadas à reprodução e ao cuidado, e menos mulheres em espaços que trabalham questões econômicas. Soma-se a isso exclusões, assédios e violências, como a violência política, que tem nos assolado em tantas esferas e comprometido a participação das mulheres nos espaços de poder”, disse.

Também foi apresentada a agenda de encontros do GT, sua dinâmica de funcionamento e temas que serão debatidos. O segundo encontro será no dia 04 de julho com o tema “Quem são as mulheres no serviço público brasileiro?”. E no dia 18 de julho, a discussão será sobre “Mulheres Negras e o Teto de Concreto”. Outros temas que serão abordados são ascensão e

permanência de mulheres em cargos de liderança no serviço público, vivências de violência e assédio, e o papel das ações afirmativas com um olhar interseccional na promoção de políticas de equidade.

GT Mulheres no Serviço Público

Alinhada à agenda de equidade no serviço público, área em que o Movimento atua desde o seu início, em 2021, a criação do Grupo de Trabalho busca qualificar o debate sobre a importância da democracia representativa e os desafios enfrentados pelas mulheres no serviço público. O GT reflete a missão da organização de apoiar a construção de diretrizes para uma gestão mais efetiva do Estado, especialmente por meio de políticas de gestão de pessoas que considerem, entre outros aspectos, a importância da diversidade e da representatividade no setor público. Para tal, pretende construir e encaminhar propostas para aprimorar da gestão de pessoas nesse campo.

O Movimento acredita que lideranças diversas tendem a estar mais preparada para lidar com os múltiplos desafios enfrentados pelos gestores públicos de um país diverso como o Brasil. Especialmente no caso das mulheres, sua presença em cargos de liderança contribui para uma administração pública mais democrática e responsiva, além de potencializar o impacto da gestão e formulação de políticas públicas, com a priorização de recursos e estratégias com foco no atendimento às necessidades da população em sua diversidade.