Evento promovido pelo Movimento discute diversidade no setor público

10/12/2021 às 13:17

Fortalecer e incentivar uma administração pública representativa por meio da diversidade da sociedade brasileira, em especial nos cargos mais estratégicos, em busca de um Estado mais eficiente. Este foi o tema do evento “Lideranças e a Diversidade no Setor Público”, promovido na terça-feira (dia 7), pelo Movimento Pessoas à Frente. Durante uma hora e meia, seis palestrantes conversaram sobre os cenários, os desafios e os caminhos para expandir e garantir a diversidade no setor público e, com isso, gerar mais impactos sobre políticas e serviços públicos oferecidos à sociedade.

No evento on-line, os palestrantes foram unânimes em destacar a importância da diversidade de pessoas em posições de poder no serviço público. Avaliaram que, dessa forma, será possível a construção de uma agenda pública como um amplo espectro de visão sobre a população, principalmente em um país marcado pela desigualdade estrutural como o Brasil. 

Participaram do evento, que está disponível no Youtube do Movimento, Amanda Moreira, da Fundação Lemann; Diogo Lima, coordenador de projetos na Republica.org; Jessika Moreira, coordenadora-geral do ÍRIS | Laboratório de Inovação e Dados do Governo do Ceará; os três integrantes do Movimento. E ainda Joyce Trindade, Secretária Municipal de Políticas e Promoção da Mulher na Prefeitura do Rio de Janeiro; Lara Barreto, diretora de Operações e Parcerias no Vetor Brasil; e Rafaela Bastos, presidente da Fundação João Goulart, autarquia da prefeitura do Rio de Janeiro encarregada de promover o desenvolvimento dos servidores municipais. 

Um desafio coletivo

Ao abrir o debate, Amanda Moreira, que também integra a Secretaria Executiva do Movimento Pessoas à Frente, lançou uma questão para despertar as reflexões: Como se consegue olhar para diversidades e relacioná-las às lideranças no setor público para que haja uma geração do valor público? “O que todos buscamos é dar visibilidade ao que está sendo feito e escalar as ações de forma a influenciar muito mais gente em todo o país”, comentou Amanda. 

Em sua fala, a secretária municipal Joyce Trindade observou que a participação de mulheres e negros em cargos de liderança é um desafio coletivo que precisa ser encampado no setor público. “Não somos criados para estar nos espaços de liderança”, disse Joyce. Ela usou o exemplo da sua gestão na secretaria do Rio para demonstrar como é possível avançar na pauta da diversidade. “Antes de tudo, esse tema da diversidade tem que ser transversal, políticas públicas não devem funcionar como caixinhas que não se conversam”, afirmou. E acrescentou: “É fundamental que todos entendam que essas pautas devem ser cruzadas”.

Diogo Lima, do República.org e também integrante da secretaria executiva do Movimento, afirmou que a transformação efetiva do Estado, que passa pela melhor gestão das pessoas que trabalham no serviço público, também acontecerá pela seleção de pessoas diversas para assumirem essa missão de liderança. “Se transformar a forma de gerenciar e de organizar as lideranças do serviço público leva a transformações na política, na forma como se estrutura o Estado e nas entregas que são feitas à população, então se também diversificamos essas lideranças (no setor público) em termos de raça, de gênero, de trajetória de vida, geramos um impacto tanto na estrutura quanto na realidade como um todo”, avaliou Diogo. 

Afro futurismo

Diretora do Vetor Brasil, uma organização da sociedade civil que trabalha focada na seleção de pessoas para o serviço público, Lara Barreto destacou o conceito de burocracia representativa. “O governo precisa representar o povo ao qual ele serve. Isso em todos os níveis”, disse. “Nosso papel, nossa missão é potencializar o setor público. Mas é impossível pensar isso sem diversidade, em caminhos diversos. Diversidade é um caminho”, afirmou Lara. E lembrou que hoje existem projetos dentro do serviço público para formar lideranças negras dentro do governo.  

Rafaela Bastos, presidente da Fundação João Goulart, se apoiou no conceito de afro futurismo – um movimento cultural, estético e político que projeta o futuro com a perspectiva negra – para destacar a necessidade de se construir em conjunto a pauta da diversidade. “A pauta da diversidade não é uma trincheira entre gêneros, raças. A pauta da diversidade é uma pauta de uma sociedade mais equânime, mais feliz e economicamente sustentável”, disse Rafaela. “Vamos dar um voto de confiança para a diferença. Ser diferente não é motivo para construir desigualdade; e sim construir felicidade.” 

Para Jéssika Moreira, não se pode tratar esse tema sem abordar a questão da inclusão. “Pensar em diversidade sem pensar em inclusão não funciona. É preciso criar uma cultura dentro do setor público de inclusão”, defendeu a coordenadora do ÍRIS, do governo do Ceará. “Valorização da diversidade é uma urgência no setor público. É algo ético, necessário, justo, e uma questão de direitos humanos. Também se relaciona à capacidade de entregar mais resultados. Só através desse olhar vamos conseguir estar mais prontos para resolver os problemas mais complexos e mais urgentes da sociedade”, disse Jéssika, ao citar o exemplo da Secretaria de Fazenda do Ceará, que realizou este ano um concurso público para vagas de liderança com edital de seleção incluindo cotas raciais e para pessoas com deficiência.

Ao viabilizar eventos públicos como esse, o Movimento Pessoas à Frente quer impulsionar o debate sobre a importância da ampliação da diversidade e da inclusão na administração pública. O tema é parte fundamental da agenda que busca influenciar as discussões sobre como tornar o Estado mais eficaz por meio da gestão de pessoas no setor público.