Cristiano Heckert assume presidência da Funpresp-Exe após passar por concorrido processo de seleção para o cargo

19/05/2022 às 13:20

Recém-empossado na presidência da Funpresp-Exe (Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo), Cristiano Heckert, 45 anos, é o novo presidente do fundo de pensão depois de participar de concorrido processo seletivo. Após um mês e meio de provas, avaliações e entrevistas, Heckert ficou entre os seis finalistas de um total de 22 candidatos à vaga. Depois de escolhido pelo Conselho Deliberativo da entidade previdenciária e confirmado pelos órgãos reguladores, ele assumiu o cargo em janeiro deste ano para comandar a fundação pelos próximos dois anos. 

Servidor público federal há 17 anos, Herckert era, até o ano passado, secretário de Gestão no Ministério da Economia. Entre as suas regras de governança, a Funpresp – uma fundação sem fins lucrativos, de direito privado, mas com natureza pública – está consolidando o processo seletivo para preenchimento de todos os cargos gerenciais, desde coordenadores até os diretores.

Amplamente divulgado junto aos servidores públicos federais, o processo seletivo para escolha do diretor-presidente da Funpresp ocorreu no segundo semestre de 2021 e foi conduzido por uma empresa especializada em Recursos Humanos, contratada pela entidade. “Como servidor público, foi uma grata surpresa quando vi o anúncio de que a Funpresp estava abrindo um processo seletivo e fiquei muito feliz porque eu defendo esse tipo de iniciativa; acho que ela valoriza os bons servidores”, disse Heckert, nesta entrevista ao site do Movimento Pessoas à Frente.

Graduado em engenharia de Produção pela USP, Cristiano Heckert foi aprovado no concurso público para carreira de especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental em 2005, oito anos antes de a Funpresp ser criada em 2013. Há quatro anos, ele optou por se tornar participante do fundo de pensão dos servidores federais e agora, como presidente, vai ajudar a administrar a entidade previdenciária que acumula patrimônio de R$ 5 bilhões, pertencente a mais de 87 mil servidores federais dos poderes Executivo e Legislativo. 

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Como foi o processo seletivo para escolha de diretor presidente da Funpresp-Exe e o que o sr. destaca da experiência?

Cristiano Heckert – Foi uma grata surpresa quando vi o anúncio de que a Funpresp estava abrindo um processo seletivo [para a diretoria]. Fiquei muito feliz porque defendo esse tipo de iniciativa, que valoriza os bons servidores. Se esse tipo de prática se tornar regra na administração pública, com certeza vamos qualificar a ocupação das posições de liderança. 

Como foi o seu processo de seleção? 

Cristiano Heckert – Foi composto por algumas etapas. O tempo total foi em torno de um mês e meio, o que eu considero razoável pelo tamanho de uma seleção desse porte. A Funpresp contratou uma empresa externa de RH, o que considerei muito louvável porque isso traz uma impessoalidade à escolha. As minhas primeiras interações foram com essa empresa que me aplicou alguns testes online de aptidões e de personalidade. Depois fiz uma entrevista com uma pessoa da empresa e tive uma entrevista com o Conselho Deliberativo, que é a instância máxima da governança da Funpresp.

O que o motivou a participar desta seleção?

Cristiano Heckert – Fiquei muito entusiasmado ao ver a iniciativa da Funpresp. Resolvi me candidatar para fortalecer e ajudar a consolidar o processo. Me atraiu o fato de saber que era um processo seletivo isonômico e aberto. Mesmo que eu não fosse o escolhido, já valeria por ter tornado o processo mais competitivo e consolidado. Quanto mais pessoas qualificadas participarem, mais se tem a ganhar no setor público a longo prazo, para que essa prática se perpetue na Funpresp e sirva de exemplo a outras instituições. 

Sou participante da Funpresp há quatro anos por opção e quero contribuir para que ela continue a ser bem administrada para que se fortaleçam suas instâncias de governança. Afinal, é o meu dinheiro que está aqui como o de vários colegas; e é a nossa aposentadoria que está em jogo.

No serviço público brasileiro, processos seletivos para ocupação de cargos de alta direção não são comuns. Que tipo de benefícios a adoção dessa prática traria para o setor público? Seria uma forma de blindar os cargos de liderança do apadrinhamento político?

Cristiano Heckert – Os processos de pré-seleção trazem credibilidade para a ocupação desses cargos. Quando se agregam os processos seletivos, você está trabalhando de forma isonômica, transparente, competitiva. Por vezes, há pessoas que nem estão no raio de conhecimento de quem está ofertando as vagas e que podem se candidatar. Sem dúvida, isso qualifica muito o processo de escolha.  

O sr. vê chances de essa prática se disseminar mais na administração pública?

Cristiano Heckert – Vou narrar uma experiência minha ainda como secretário de Gestão no Ministério da Economia. Uma área subordinada à secretaria é a Central de Compras e, para ela, fizemos um processo seletivo para o cargo de diretor da central, que é um DAS 5 [cargo comissionado], uma função bastante alta na hierarquia do governo. A diretora anterior saiu por motivo pessoal e resolvemos abrir um processo seletivo e tivemos mais de 260 candidatos. Fizemos uma parceria com a Enap (Escola Nacional de Administração Pública), que fez uma primeira triagem. A Enap aplicou uma série de métodos para selecionar e, ao final do processo, me entregou uma lista com 10 nomes, que foram os mais bem colocados. Eu entrevistei os 10, junto com a minha chefe de gabinete à época, e selecionamos uma colega que eu não conhecia, que veio do Rio de Janeiro, da Agência Nacional de Saúde Suplementar e ela está indo muito bem como a atual diretora da Central.

E o que eu acho ainda mais legal: entre aquelas 10 pessoas que eu entrevistei, outros foram chamados para outros cargos de confiança, à medida em que foram surgindo outras posições dentro da secretaria. Esse, para mim, é um case de extremo sucesso.  A gente tem que disseminar esse tipo de iniciativa na administração pública.   

O sr. vê uma relação direta entre a pré-seleção para cargos de alta liderança e uma melhor prestação de serviços públicos?

Cristiano Heckert – Sim, com certeza, há total relação. Ao qualificarmos todas as posições na administração pública e isso gera consequências diretas ao serviço prestado ao cidadão. 

No entanto, temos uma prática política no Brasil que envolve a negociação de cargos. Atualmente, há alguns exemplos em governos estaduais que implantam processos seletivos, mas isso depende basicamente ainda da vontade do governante. Na sua avaliação, qual o caminho para se tornar perene a prática das pré-seleções?

Cristiano Heckert – Uma portaria, um decreto, uma lei, a depender do contexto, a meu ver é algo que deve ser buscado sim. Mas uma coisa importante também é prover ao dirigente que quer fazer o processo seletivo as condições de viabilizar isso. Aqui na Funpresp, por exemplo, existe a facilidade de contratar uma empresa de RH para fazer esse tipo de trabalho. Já no Ministério da Economia, no caso da seleção para a Central de Compras, tivemos uma parceria com a Enap. Se tivéssemos que analisar 260 currículos internamente, teríamos uma carga operacional grande e sem a qualificação necessária para fazer isso com critério técnico. 

O sr. vê espaço para se avançar num equilíbrio entre o critério político e o critério técnico para escolha dos dirigentes?

Cristiano Heckert – Não podemos menosprezar o valor da democracia. É legítimo que qualquer governo eleito implemente a agenda e a proposta que foram consagradas nas urnas e, portanto, é natural escolher, principalmente para os cargos mais do topo da hierarquia, pessoas que sejam política e ideologicamente alinhadas com aquele governo do momento. Mas isso não prescinde que essas pessoas tenham qualificação técnica e preparo para ocupar aquelas posições. Não vejo isso como uma contradição. 

O sr. acredita que se possa fazer isso dentro de uma instituição maior da administração pública ou até de forma generalizada?

Cristiano Heckert – Sim, porque existem muitos caminhos. Por exemplo, a Central de Compras do Ministério da Economia faz as compras para o governo federal como um todo e gera as chamadas “atas de registro de preços” que, quem precisa, vai nelas, consulta e pode aderir a um contrato já feito. Então isso é algo que a Central poderia fazer também: faz uma licitação, credencia uma ou até mais empresas de RH, cada uma delas coloca a sua tabela de serviços e preços e, cada órgão, na hora que precisar faz o uso do serviço aderindo ao contrato.

Um outro pilar importante na gestão de pessoas no serviço público é a avaliação do servidor enquanto desempenhando suas atividades. Como o sr. vê essa questão? Há temores de que possa haver perseguições políticas contra servidores no momento de uma avaliação.

Cristiano Heckert – A avaliação de desempenho é um grande desafio em qualquer instituição, seja ela pública ou privada. É algo extremamente necessário. Defendo que se faça na administração pública em todos os níveis, e para todos os servidores: desde aquele que não ocupa cargo até os que estão em mais alto escalão. É muito importante que a pessoa saiba que ela vai ser avaliada e que está sendo acompanhada. Isso traz estímulos para que se caminhe na direção das metas e dos objetivos traçados.

E como o sr. acredita que deveria ser feito?

Cristiano Heckert – É, sem dúvida, algo complexo e que precisa ser bem estruturado. Parte desde a definição de quais vão ser as metas? Como vai ser o procedimento de avaliação? Quais as blindagens possíveis, especialmente em relação a quem for mal avaliado? Como se requalifica essa pessoa? Como eventualmente se muda uma pessoa de setor para que em um próximo ciclo de avaliação ela seja avaliada por pessoas diferentes e, com isso, se diminua esses riscos de qualquer tipo de indisposição pessoal. Então é algo muito complexo, mas que precisa ser enfrentado. A administração pública tem muito a ganhar com isso e os bons servidores também têm muito a ganhar porque vão ter o reconhecimento do seu trabalho diferenciado.

Na sua avaliação, quais as principais características que um líder deve ter?

Cristiano Heckert – Acho que a principal função de um chefe é saber montar um bom time. Falo sempre isso com as minhas equipes. É um desafio. Fazendo uma analogia com o futebol: quando você assume uma posição gerencial você deixa de ser um jogador e passa ser o técnico. E isso traz muitos desafios. O principal deles é que você não pode entrar em campo para jogar. Você tem que montar um bom time, saber tirar de cada jogador o melhor que ele tem e desenvolver esses talentos para que façam os gols e estejam em campo trazendo as vitórias. Você deixa de ser cada vez mais um executor de tarefas para ser um gestor de pessoas; numa gestão voltada a resultados e com clareza de objetivos, de metas, de onde se quer chegar.