Atração e seleção de líderes: a busca da profissionalização no setor público

06/10/2021 às 22:57

Como atrair e selecionar os melhores líderes no serviço público? Esse foi o foco da “Jornada Governança Pública – Experiências internacionais de pessoas à frente da transformação do Estado”, realizada nesta terça-feira, 5 de outubro, o terceiro seminário da série promovida pela Câmara dos Deputados, pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Os eventos foram organizados pela Secretaria de Relações Internacionais da Câmara, com o apoio do Movimento Pessoas à Frente. 

Na abertura, os deputados Fernando Monteiro (PP-PE) e Tiago Mitraud (Novo-MG), presidente e vice-presidente da Comissão Especial da Reforma Administrativa, respectivamente, e a secretária de Relações Internacionais da Câmara, deputada Soraya Santos (PL-RJ), agradeceram a contribuição dos organismos e experiências internacionais e a visão da sociedade civil. 

“É certamente com base nas boas práticas internacionais que vamos melhor conduzir nossa reforma administrativa”, destacou Tiago Mitraud, que também é presidente da Frente Parlamentar Mista da Reforma Administrativa e foi o moderador do evento. “As ideias que ouvimos de cada um, mesmo que breves, são importantes para adaptarmos as experiências à nossa realidade”, completou Fernando Monteiro.  

Visão estratégica

No primeiro painel, “Melhores práticas OCDE: Liderança para um Serviço Público de Alto Desempenho”, Daniel Gerson, da diretoria de governança pública da Organização, falou sobre as recomendações para formação de lideranças e a capacitação do servidor público. “As habilidades de lideranças administrativas são muito importantes. São habilidades complexas que demandam profundo conhecimento da máquina do governo”, afirmou Gerson, ao observar que a formação de lideranças é um projeto a longo prazo que demanda recursos. Ele reforçou que a maioria dos países da OCDE busca lideranças do setor público que têm visão estratégica e na obtenção de resultados. 

O segundo painel tratou das “Experiências Internacionais” com palestras de três especialistas. Para David Bearfield, diretor global de recursos humanos do PNUD, é preciso apostar em inovação no recrutamento de lideranças. “É importante ter ferramentas de seleção bem estabelecidas, métodos que testem o que precisa ser testado”, disse. Para ele, o “padrão dourado de seleção” inclui uma entrevista baseada em competências, conduzida por um profissional da área de psicologia. 

O especialista em gestão pública Graeme Head falou sobre a experiência do serviço público da Austrália. Ele liderou o processo de mudança na gestão de pessoas no período de 2011 a 2017 em Gales do Sul, o maior estado da Austrália. “Fizemos reformas significativas, avaliando como as lideranças eram recrutadas e selecionadas”, explicou. “É preciso apoiar as capacidades desses servidores de maneira contínua”, acrescentou. 

Competências e diversidade

A professora do Insper, Kiki Mori, representante do Movimento Pessoas à Frente, abordou as etapas importantes para atração e seleção de lideranças no serviço público. Ela defendeu que é preciso investir, primeiramente, em um mapeamento do perfil de competências para os cargos de liderança. Em seguida, é preciso fazer uma ampla divulgação e busca ativa de profissionais para as vagas em aberto. “A chave do processo é uma entrevista baseada em competências feita por profissionais capacitados, colocando as pessoas em situações reais”, destacou.

O seminário foi encerrado com um debate entre os participantes, a partir de perguntas feitas pelo público. A diminuição da influência do “apadrinhamento político” para os cargos públicos de liderança e a ampliação da diversidade nas contratações foram desafios abordados pelos espectadores do seminário. 

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), autor do projeto de lei 3.769/2019 que institui critérios para contratação de cargos em comissão e funções gratificadas, que tramita no Senado Federal, defendeu que a definição de regras objetivas para preenchimento dessas vagas é algo que moderniza na atração de pessoas para o setor público, além de ser um passo importante no enfrentamento das questões apresentadas. “Toda a contratação tem que ser feita para atender o interesse público e não os governantes de plantão”, afirmou o senador.

“Vocês (no Brasil) têm bolsões de boas práticas e podem ainda se inspirar nas experiências internacionais, e é preciso persistência e paciência para avançar”, aconselhou Daniel Gerson, da OCDE. Para Kiki Mori, uma parte desses desafios pode ser resolvida com a aprovação de legislações que blindam os cargos de liderança a partir da seleção por competências e a criação de instâncias que zelem pela garantia da diversidade.