15/07/2024 às 10:02
O número de novas ações de improbidade administrativa que chegam ao judiciário sofreu uma queda de 42% entre 2021 e 2023, período sob incidência da Lei nº 14.230/2021, conhecida como Nova Lei de Improbidade Administrativa , que alterou a regra vigente no Brasil desde 1992. Em 2022, ano subsequente à entrada em vigor da nova lei, a diminuição registrada foi de 36%. Os números são do “Balanço sobre a alteração da Lei de Improbidade Administrativa”, produzido pelo Movimento Pessoas à Frente a partir da Base Nacional de Dados do Poder Judiciário (DataJud), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
“A cultura acusatória formada com a Lei de Improbidade Administrativa se mostrou pouco eficaz no que deveria ser o objetivo final da legislação: responsabilizar o gestor desonesto e os particulares beneficiados com isso. Com a nova lei, ao permitir que apenas ações intencionais e de má-fé sejam punidas, colocamos um freio em acusações irresponsáveis e direcionamos o poder punitivo para o que é realmente relevante – o gestor público corrupto, além de evitar custos excessivos e inócuos para o Estado”, afirma Vera Monteiro, professora da FGV Direito SP e integrante do Movimento Pessoas à Frente
A partir dessa mesma base de dados, o estudo indica ainda que a Justiça Estadual de São Paulo é o foro com mais casos de improbidade, concentrando 13% de todos os processos deste tipo no Brasil, seguida da Justiça Federal da 1ª Região, com 12% das ações. Já aqueles com menor quantidade de processos por improbidade são as Justiças Estaduais do Amapá, do Acre e a Justiça do Distrito Federal.
Como o tempo médio de tramitação desse tipo de ação é de 7 anos, ainda não há dados disponíveis para aferir com qualidade as condenações por improbidade após a nova LIA. Mas, apesar de não ser possível analisar o desfecho dos processos iniciados com sob a nova lei, os pesquisadores responsáveis pelo estudo enxergam indícios positivos na mudança: “Ao contrário do que alguns críticos apontavam na época da sua aprovação, a alteração da lei não significou nenhum tipo de retrocesso na pauta do controle à corrupção no Brasil. O que ela traz é um ajuste fino, mas importante para trazer segurança jurídica aos gestores públicos honestos. As imputações da lei de improbidade são muito graves, como a suspensão de direitos políticos, e têm impacto imediato nas disputas locais, de forma que não podem incluir nenhuma subjetividade em sua aplicação. Seu alvo é o gestor desonesto e deve servir para combater a corrupção, é para os ilícitos de fato importantes que a ação de improbidade serve. Seu foco não pode ser meros erros administrativos. Evitar o abuso de punir é fundamental para que gestores ousem e adotem práticas inovadoras”, complementa Monteiro.
Prefeituras concentram condenações
A partir dos dados do Cadastro Nacional de Condenações Cíveis por Ato de Improbidade Administrativa e Inelegibilidade, também do CNJ, o estudo aponta que 58% das condenações por improbidade administrativa registradas entre 1995 e 2024 envolveram atos praticados em âmbito municipal. Prefeitos e ex-prefeitos representam, juntos, 33% dos agentes públicos condenados pela LIA, seguidos de vereadores (5%) e secretários municipais (4%). É importante destacar que, nessa análise, há um percentual relativamente alto (37%) de casos sem indicação, no cadastro, do cargo ocupado pelo sujeito condenado .
As condenações enquadradas como lesão ao erário representam o maior percentual de condenações por improbidade (27,6%). Antes da nova LIA, a modalidade culposa, ou seja, sem intencionalidade, era admitida para esse tipo de condenação. Em seguida, vêm as condenações pela violação dos princípios da administração pública (25,3%). Na contramão do senso comum, os casos de enriquecimento ilícito representam menos de 7% das condenações.
Os dados indicam, ainda, uma trajetória ascendente no número de condenações a partir de 1995, com exceção para os anos de 2012 e 2013. Essa curva crescente vai até o ano de 2019, quando há uma queda significa na quantidade de condenações, o que, no entender dos pesquisadores, se explica a partir das informações sobre tempo de tramitação trazidas pelo estudo – a grande maioria das ações dura mais de 5 anos (68%), com 23% dos casos com mais de 10 anos de duração. Na prática, isso acaba impedindo que se tenha, hoje, na base de dados das condenações, informações relacionadas a casos mais recentes, ainda não encerrados.
“Historicamente os municípios concentram a maior parte das ações de improbidade, em grande medida porque há uma grande personificação da gestão pública na figura do prefeito e uma presença forte, muitas vezes também personificada, dos órgãos de controle, especialmente o Ministério Público. Considerando o perfil da maioria dos municípios brasileiros e suas dificuldades para estabelecerem um aparato de assessoramento jurídico adequado e suficiente, de que mais usualmente dispõe a esfera federal, acredito que tenhamos elementos para entender essa tendência”, explica a advogada e pesquisadora do estudo Fernanda Rocha.
Metodologia
A análise dos efeitos da nova LIA foi feita a partir da Base Nacional de Dados do Poder Judiciário (DataJud) do CNJ, acessada por meio do Painel de Estatísticas do Poder Judiciário, considerando um período de quatro anos (janeiro/2020 a dezembro/2023). Já a série histórica que reúne dados sobre os processos julgados entre 1995 e 2024 foi retirada do Cadastro Nacional de Condenações Cíveis por Ato de Improbidade Administrativa e Inelegibilidade, também do CNJ. Os pesquisadores responsáveis pelo estudo são Fernanda Cardoso de Almeida Dias da Rocha, Vera Monteiro e Luis Pedro Polesi de Castro.
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Nome | Setor | Cargo |
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Adriano Amorim | Órgãos de Controle | Tribunal de Contas da União (TCU) (Comitê de Governança) |
Alessandro Molon | Especialista | Partido Socialista Brasileiro (PSB) |
Aline Fabiana Timm Cesário | Órgãos de Controle | Auditora Federal de Controle Externo, Tribunal de Contas da União (TCU) |
Alketa Peci | Especialista | Professora, EBAPE/FGV |
André Anderson | Órgãos de Controle | Secretário de Planejamento, Gestão e Governança, Tribunal de Contas da União (TCU) |
André Luiz Marques | Organizações do Terceiro Setor | Coordenador Executivo do Centro de Gestão e Políticas Públicas Insper |
Andrea Quadros Pasquini | Governo Estadual | Diretora de Gestão de Pessoas do RS, Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão do RS |
Anna Migueis | Organizações do Terceiro Setor | Pesquisadora, Sociedade Brasileira de Direito Público (SBDP) |
Bruna Santos | Organizações do Terceiro Setor | Diretora, Wilson Center Brazil Institute |
Bruno Betat | Organizações do Terceiro Setor | Instituto Gesto e Vetor Brasil |
Bruno Simões | Governo Municipal | Prefeitura de São Paulo |
Caio César de Medeiros Costa | Organizações do Terceiro Setor | Presidente da SBAP |
Carlos Ari Sundfeld | Organizações do Terceiro Setor | SBDP, Professor Titular FGV Direito SP (Comitê de Governança) |
Cezar Miola | Órgãos de Controle | Presidente da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil - Atricon |
Cibele Franzese | Especialista | Professora e Coordenadora FGV/EAESP (Comitê de Governança) |
Clarissa Malinverni | Organizações do Terceiro Setor | Fundação Lemann |
Conrado Tristão | Organizações do Terceiro Setor | Coordenador do Núcleo de Inovação da Função Pública - Sociedade Brasileira de Direito Público (sbdp) |
Cristiano Heckert | Organizações do Terceiro Setor | Diretor-Presidente da Funpresp-Exe |
Daniel Duque | Organizações do Terceiro Setor | Head de Inteligência Técnica, CLP |
Daniel Ortega Nieto | Especialista | Especialista Sênior em Setor Público, Banco Mundial |
Denise Silva | Organizações do Terceiro Setor | Instituto Gesto e Vetor Brasil |
Diogo Godinho Ramos Costa | Organizações do Terceiro Setor | Intituto Millenium |
Douglas Andrade da Silva | Governo Federal | Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) |
Edilberto Carlos Pontes Lima | Organizações do Terceiro Setor | Instituto Rui Barbosa |
Edison Franklin Almeida | Órgãos de Controle | Auditor Federal de Controle Externo Tribunal de Contas da União (TCU) |
Eduardo Viana Almas | Governo Federal | Ministério da Economia |
Elisa Midori Okamura | Governo Federal | Assistente na Coordenação-Geral de Arquitetura de Carreiras deste Departamento de Carreiras e Desenvolvimento de Pessoas, Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia |
Eloy Oliveira | Organizações do Terceiro Setor | República.org |
Emilia Carvalho | Organizações do Terceiro Setor | Coordenadora de Mobilização, CLP |
Érika Nascimento | Governo Estadual | Seduc SP |
Evelyn Levy | Especialista | Especialista sênior em Gestão Pública / FGV |
Fabricio Marques Santos | Governo Estadual | Secretário de Planejamento, Gestão e Desenvolvimento Regional de Pernambuco e presidente do Conselho Nac. de Sec. de Estado do Planejamento-CONSEPLAN (Comitê de Governança) |
Faviane Teixeira | Organizações do Terceiro Setor | Gerente de Apoio Estratégico a Governos Vetor Brasil |
Felipe Drumond | Setor privado | Elo |
Fernando de S. Coelho | Especialista | Professor USP |
Flavia Pimenta | Governo Estadual | Gestora Governamental de MT |
Francisco Gaetani | Governo Federal | Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) (Comitê de Governança) |
Frederico Carvalho Dias | Órgãos de Controle | Tribunal de Contas da União (TCU) (Comitê de Governança) |
Gabriela Lotta | Especialista | FGV (Comitê de Governança) |
Gláucia Macedo | Organizações do Terceiro Setor | Instituto Humanize |
Guilherme Coelho | Organizações do Terceiro Setor | República.org |
Hamilton Caputo | Órgãos de Controle | Secretário de Controle Externo em SP no Tribunal de Contas da União · |
Haroldo Rocha | Organizações do Terceiro Setor | Movimento Profissão Docente (Comitê de Governança) |
Helena Wajnman | Organizações do Terceiro Setor | República.org (Comitê de Governança) |
Humberto Falcão | Organizações do Terceiro Setor | Fundação Dom Cabral (Comitê de Governança) |
Ieda Aparecida de Moura Cagni | Advocacia Pública | Secretária-Geral de Administração , Advocacia-Geral da União (AGU) |
Inês Coimbra | Advocacia Pública | Procuradora Geral do Estado de São Paulo |
Iracema Keila Castelo Branco | Governo Estadual | Subsecretária de Gestão de Pessoas, Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão do RS |
Isabela Menon | Organizações do Terceiro Setor | CLP |
Jéssika Moreira | Organizações do Terceiro Setor | Cofundadora do Íris: Laboratório de Inovação e Dados do Governo do Ceará | Rede de Líderes Fundação Lemann |
João Paulo Mota | Organizações do Terceiro Setor | Instituto Publix |
Joice Toyota | Organizações do Terceiro Setor | Vetor Brasil (Comitê de Governança) |
José Roberto Baldivia Junior | Organizações do Terceiro Setor | Instituto Gesto |
Juliana Bonacorsi de Palma | Especialista | Professora e pesquisadora Grupo Público – FGV Direito SP |
Kiki Mori | Governo Federal | Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) |
Leonardo Secchi | Especialista | Professor de Políticas Públicas e Administração Pública |
Leticia Biaggion | Organizações do Terceiro Setor | Fundação Lemann |
Luana Dratovsky | Organizações do Terceiro Setor | Instituto Gesto |
Lucas Ambrozio Lopes da Silva | Governo Municipal | Prefeitura de São Paulo |
Lucas Cardoso | Organizações do Terceiro Setor | CEO, Dendezeiro |
Luciana Silva Custódio | Governo Estadual | Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, Governo do Estado de Minas Gerais |
Marcelo Ribeiro | Governo Estadual | Secretário Adjunto de Gestão de Pessoas · Secretaria Estadual de Educação do Estado do Pará (SEDUC-PA) |
Marcos Santos Kroll | Governo Federal | Diretor(a) do Departamento de Modelos Organizacionais - Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) |
Mariano Lafuente | Especialista | Especialista Líder em Modernização do Estado no BID |
Mario Woortmann | Organizações do Terceiro Setor | Instituto Publix |
Marizaura Camões | Governo Federal | Coordenadora-Geral da Unidade de Insights Comportamentais · Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos |
Michael Cerqueira | Especialista | Consultor de Gestão Pública |
Monica Bernardi | Organizações do Terceiro Setor | Fundação João Pinheiro |
Natalia Teles da Mota | Especialista | ENAP |
Oton Araujo Duarte da Silva | Governo Municipal | Prefeitura do Rio de Janeiro |
Paulo Lino Gonçalves | Sindicato | Presidente, Sinal – Sind. Nac. Func. Banco Central |
Pedro Pontual | Governo Federal | Casa Civil (Comitê de Governança) |
Rafael Leite | Organizações do Terceiro Setor | Consultor, Fundação Lemann |
Rafaela Bastos | Organizações do Terceiro Setor | Presidente da Fundação João Goulart – Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro |
Renata Vilhena | Organizações do Terceiro Setor | Fundação Dom Cabral (Comitê de Governança) |
Renato Sérgio de Lima | Organizações do Terceiro Setor | Fórum Brasileiro de Segurança Pública |
Ricardo Alberto Kanayama | Organizações do Terceiro Setor | Advogado e pesquisador, Sociedade Brasileira de Direito Público (sbdp) |
Rudinei dos Santos Marques | Sindicato | Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) (Comitê de Governança) |
Sérgio Andrade | Organizações do Terceiro Setor | Agenda Pública |
Sérgio Praça | Especialista | Professor e pesquisador da Escola de Ciências Sociais (CPDOC) da FGV |
Tâmara Andrade | Especialista | Professora e Especialista em gestão de pessoas e diversidade |
Tatiana Ribeiro | Organizações do Terceiro Setor | Movimento Brasil Competitivo (MBC) (Comitê de Governança) |
Thiago Peixoto | Organizações do Terceiro Setor | Movimento Profissão Docente |
Tiago Mitraud | Especialista | Partido NOVO (Comitê de Governança) |
Vera Monteiro | Especialista | Advogada e Professora de direito administrativo da FGV Direito SP (Comitê de Governança) |
Weber Sutti | Organizações do Terceiro Setor | Diretor, Fundação Lemann (Comitê de Governança) |